sábado, 21 de setembro de 2013

Parentes distantes

Hoje é sábado.

Você me ligou e disse:
- Hoje é sábado! Como não pode conversar?

Queria saber como andava a Mamãe, como estava o namoro e se eu ainda cozinhava de vez em quando.

- Fale comigo, conte-me todas as coisas do seu coração!

Queria minha atenção como nos tempos de criança,
um balde de talco em cada dedinho do pé.

Minha mão já quente e o coração frio não tinham palavras pra explicar o que eu consegui guardar por tanto tempo.

Não leio mais, não canto mais, não pense mal de mim!

E calados por um segundo, leu-se saudade quando os olhos fecharam.
Minha boca se alastrou de pensamentos - de tão triste a ligação caiu.

E o tum do coração, tanto fez, tanto bateu

que se calou.

Espelho do Tempo

A grossa cicatriz no pescoço,

primeira coisa que olhei quando o vi de costas descendo a Afonso Pena, era o que mostrava ser ele, um homem que viveu.

A camisa azul regata, a bermuda bege, e as pernas fortes, de quem usou de sua força por muito tempo, transpiravam um ar de correria. Seus tênis eram escuros. 

Ele andava muito rápido.

O pescoço era curto.
Os cabelos raspados, bem batidos com manchas cinzas.

O homem parecia ter sobrevivido ao que se chama vida. E as marcas do tempo eram nítidas.

A cicatriz era sua marca, seu legado, e sua exatidão.

Não se sabia se era a cicatriz que transparecia o homem,

ou se era ele,

que se refletia na cicatriz.