sábado, 8 de agosto de 2009

“ Depois do amor.”

Ele disse que os homens só pensam em sexo.

Os cachorros foram trocados por pássaros no canteiro de terra do portão de entrada da UFF. Eles estariam de férias, ou os pombos talvez comera-os.

As aulas foram adiadas naquela semana de pura ressaca, emocional.

Agora eram 2 semanas a mais de férias, menos para ele.

Os olhos eram castanhos.

E ele queria estar de volta à casa.

A namorada ainda não voltara, e ele já não sabia quando iria ao supermercado do preço-preguiçoso.Voltaria ele, de longe, com 20 quilos amassados em sacolas plásticas?

Não. Comeria salsichas outra vez.

Já não fazia tanto frio e Manuelle já queria um novo amor, sofria in primavera.

Não queria viajar, não queria dormir e corria, esquecendo a saudade pelos pulos.

Só corria do amor.

Socorria.

O professor dele disse que homens só pensavam em sexo. E depois do sexo viria enfim, o amor.

Literatura em realismo.

Ela sonhou que estava sendo traída de baixo dos panos, e odiou estar se doando mais do que ressentia ser doada.

Sem férias. Ela e suas pernas só queriam despertar.

Ele mandou um cartão-postal dizendo que os olhos de Manu brilhavam mais que qualquer estrela em lua nova.

Um abraço.

Um beijo.

Tentar a tal modo que ressurgisse um grão de amor daquele lençol freático que se escondia nos lábios dela.

Ressurgia, notava, e talvez ignorava qualquer grão mutante, abortivo.

Ela corria.

Ele se mudou.

Manu com olhos brilhantes, de saudade, de ressaca, lia livros sobre perdas.

"A primeira e mais sofrida perda é a do útero pelo bebê. Não nos lembramos da nossa estadia no mesmo, mas sofremos inconscientemente por ter sofrido essa perda.

Não temos lembranças conscientes da nossa vida no útero - nem de como o deixamos. Mas um dia foi nosso e tivemos de abandoná-lo .E embora o jogo cruel de desistir do que amamos, para crescer, seja repetido a cada novo estágio de desenvolvimento, esta é a nossa primeira e talvez a mais difícil renúncia.

A perda, o abandono, a desistência do paraíso.

E embora não nos lembremos, também jamais esquecemos.

Reconhecemos um paraíso e um paraíso perdido.

Reconhecemos um tempo de harmonia, de integração total, de segurança inviolável, amor incondicional...e um tempo que essa integração foi irrevogavelmente rompida . "..."

"Desejamos também recapturar o paraíso perdido daquela conexão perfeita."

 

Ás vezes, momentos fugazes – momentos de êxtase por exemplo, voltemos àquela integração, embora só algum tempo depois. "Depois do amor."

Ela queria se divorciar várias vezes, aprender com o amor.

Não que o amor estivesse que estar presente antes, em cada relacionamento em tempo integral, ou em cada mesa de refeições, mas sim no amor final.

Um amor que ela talvez, no último momento, no último dia, percebesse que passou. Passou.

Como páginas de um livro interessante.

Manu queria um amor idealizado.

Inconstância em mudar.

Um amor que até mesmo os literatos que o criaram criticassem seu desejo, por ser tão idealizado.

"- E afinal, por que não poder sonhar com um amor (ideal) assim como eu tive nos meus primeiros dias? Original e primitivo. Entre eu e o Sr. Útero.

Integração perfeita e simbiótica, aonde a parte egoistamente suprida era eu.

Integração que era fifty-fifty.

Jurava amor em troca de proteção.

Depois tive que partir e você morreu por mim placenta!

Ou eu a matei? "

Manu não queria estar sozinha, por mais tempo que o mundo criasse.

Ela aprendeu desde cedo que esperar calada, inquieta por dentro,(mas com expressões corporais intactas negando expressamentos) era posse de virtude.

Amar ou deixar de sofrer?

Sentir saudade triste ou esperar por ânsia curta e fiel?

Seria fiel o amor nu? - Seria eu?

O amor que ela tanto dizia ser expansivo, grande e vasto, e que era inocentemente original...

Seria?

Se sentia assim, fifty-fifty. Jurava amor em troca de proteção e companhia.

Ela vivia assim. Se via assim. Imutável.

A saudade já era distração. E os cachorros da UFF voltaram de férias pouco a pouco.

Descobrira que eles haviam arrumado um canto, comida e abrigo, na mecânica perto dali.

Ela viu que cada coisa têm seu lugar.

Fingiu entender todo esse lance de amor simbiótico.

Assim corria de aventuras, se escondia por de trás dos panos.

Vozes.

Se expandia em abraços e beijos de outros homens.

"Tentar a tal modo que ressurgisse um grão de amor."

"Esse estado ideal, esse estado sem fronteiras, esse sou-você-você-sou-eu, esta "fusão harmoniosa interpenetrante", esse "Eu estou no leite e o leite está em mim", esse isolamento à prova de frio, de solidão e das intimações da imortalidade. Uma condição conhecida por amantes, santos, psicóticos, viciados em drogas e bebês. É o que chamamos de bem-aventurança.

Nosso desejo eterno de união, dizem alguns psicanalistas, dá origem ao nosso desejo de volta. – de volta senão ao útero, pelo menos ao seu estado de união ilusória chamada simbiose, um estado pelo qual ,bem no fundo do inconsciente original e primitivo que todo ser humano anseia."

 

Ser amado, ser humano e não sozinho,

Ser amado, ser humano, depois do amor.

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