terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A mulher da minha vida acaba-se de sentar ao meu lado.

A mulher da minha vida não tem cabelos alisados artificialmente ou corpo de plástico.
A mulher da minha vida tem um cheiro no cabelo do mesmo shampoo que o meu.
Exatamente.
Ela tem as unhas vermelhas, quadradas, mas não tão longas.
Tamanho médio, 38.
Essa mulher não deixa as palavras soltarem da minha boca, brincarem, cantarem ou qualquer ação que a convide a conversar.
Nada.
Nada sai.
Ela cruza as pernas e apoia a cabeça no vidro da janela, puxando a cortina para trás e olhando tão fixamente pra fora que quer que o mundo caia em seu colo com presentes divinos.
O dia é tão quente que vejo a alça da sua blusa com vários fios de cabelo se embrenhar.
Ela levanta os braços dobrados e vejo seus cotovelos.
Ela não entende por que a olho.
Não entende algo familiar que viu em mim.
E que no próximo segundo, em um rápido deslize somado a um motorista do carro da frente ao celular fará sua borrachinha de cabelo cair.
Eu irei pegá-la.
Olhar fundo nos olhos dela e depois desviar ao chão dizendo - De nada.
As mãos não são tão bonitas e são um pouco grosseiras.
Mas as unhas bem cuidadas tornam detalhes físicos quase que somente detalhe.
Ela me perguntou as horas e o ônibus já estava na praia.
Eu tinha só mais dois pontos para perguntar a ela se comigo queria se casar.
A mulher da minha vida estava sentada do meu lado e não me hesitei.
Se da minha vida ela é, a própria me fará encontrá-la novamente.
E já com esse discurso blasé de quem encontra
o primeiro amor em ônibus
a pedirei em namoro depois de com ela sair algumas vezes.
Contarei para os meus netos que minha juventude era luxo:
Só de Mercedes andava, e uma vez a mulher mais linda da cidade se sentou ao meu lado.
Ela tem as unhas vermelhas, quadradas, mas não tão longas.
Quero me casar.

2 comentários:

Felipe A. disse...

gostei, Beru.

Chakal disse...

Genial...
Isso é que é formato e ritmo de texto.